sábado, 31 de março de 2012

Dançando a primavera

Depois de um rigoroso inverno, que não foi nada segundo os catalães, as coisas esquentam por aqui. Todos querem recuperar o tempo perdido. As flores pipocam por todo lado em uma dança de vida.



 Até meus cogumelos e caracóis entraram na festa.



Este aí saiu do dormência invernal com um apetite de dar medo.

 Aproxima-se a festa de São Jorge em Montblanc. Participarei da feira medieval. Meus dragões foram mais espertos que o santo mata-dragão. Roubaram sua espada e continuam por aí felizes da vida, atormentando as atualmente raras donzelas.
E o que foi feito do Santarrão? Todos sabem que sangue de dragão é verde ou azul e o que encontrei nas espadas era vermelho...

domingo, 25 de março de 2012

Fira à Castellon - la plana

 

No última semana passei alguns dias em Castellon- La Plana, ao lado do Mediterrâneo, fazendo a primeira feira fora de Barcelona.  Como diz minha companheira, há vida fora de Barcelona. O público gostou das cerâmicas. Estou satisfeito com as vendas. Os companheiros tem um astral muito legal.







 É bonito e ao mesmo tempo cruel.  Me parece a via das amputadas. Os plátanos são rigorosamente podados depois do verão. De suas cicatrizes nodosas sempre brotam novos galhos que aspiram uma longa vida, coitadas.
 Não sei como fazem ao certo. Me contaram que os jardineiros amarram galhos de árvores diferentes até que se fundem em um corpo de duas, três ou mais árvores.  As pessoas podem ser muito cruéis  na execução de suas ideias de beleza. O mesmo penso dos bonsais, com seu desenvolvimento suprimido quase à morte ou as vacas confinadas que nunca experimentaram a alegria de pastar em prado orvalhado da montanha. Entro em conflito com algumas facetas da minha humanidade. Com minha arte tento suavizar um pouco de suas pontas.

 No caminho para casa passei pela cidade litorânea de Peñiscola, que foi sede de papado em tempos de antanho. Cheguei ao nascer do sol. Não havia ninguém nas ruas.



Restos de um antigo porto de comércio muito importante na idade média

quinta-feira, 8 de março de 2012

Cores de Fogo

Terra dourada, ferrugem com textura de seda. Um novo esmalte brotou do útero de fogo.




terça-feira, 6 de março de 2012

A voz do mármore e a natureza

Harmonia


Placidez


Paz e...


...um rolo de papel higiênico e uma espingarda pelo amoooor de Deus!

domingo, 4 de março de 2012

Possessões espirituais

Ja vi e ouvi muitas histórias de pessoas possuídas por espíritos ou demônios. Jesus foi um especialista em detectar e expulsar espíritos demoníacos. Teve uma vez que  precisou de 40 porcos para abrigar a corja que habitava um pobre coitado. Nem os porcos aguentaram e se jogaram precipício abaixo. Na Inglaterra tem casarões compartilhados por vivos e mortos-vivos. Há alguns anos os endemoniados pipocavam nas salas de cinema. O exorcista me deixou de cabelo em pé. Nunca imaginei que isto pudesse se passar comigo nesta altura da minha vida.
Tenho a impressão que meu forno de cerâmica foi possuído pelo espírito de um pintor britânico, Josep Turner, que resolveu passar uma temporada por esta bandas e, à moda das obras psicografadas de Chico Xavier, está pintografando as cerâmicas quando estäo queimando no forno. As obras de Turner  que vi na National Gallery de Londres me impressionaram muito. Muita tensão, fogo sobre tela, maestro de luz. 
Na última queima quis repetir em grande escala  a surpresa que tive com 2 canequinhas da penúltima queima, quando partes de duas delas surpreendentemente se encheram   de vida e luz. Ontem saíram umas vinte com os mesmos resultados. De repente me vieram  as imagens dos quadros de Turner.
Alguns dos efeitos visuais lembram  as imagens de seus quadros.
Será que alguém concorda comigo? Ou isto é só mais um delírio de ceramista?


  Turner 

Forno

Forno

Turner

Forno

Forno

Exorcizar o forno? Nem pensar.
Ficaria bem feliz se Van Gogh viesse passar um temporada por aqui também.

sábado, 3 de março de 2012

Ametllera em flor

Diferente do Brasil onde a vegetação é exuberante, selvagem, descontrolada  e pulsante de vida devido ao calor e umidade, aqui,  o clima mais árido, os extremos de calor e frio  construiram um ambiente com plantas ressecadas, montanhas ásperas. Plantas que aprenderam a esperar pelo momento certo de explodir em vida. Nada de desperdício. Tudo ao seu tempo. Anunciando a primavera no meio de uma campo com gramíneas mortas pelas geadas, as amendoeiras, de um dia para o outro, se cobrem de flores delicadas. Uma mescla ingênua de branco e rosa.
Neste mesmo ambiente rude e criativo de vez em quando brotam Dalis e Gaudis. É um espetáculo para os olhos passear de carro pelos interiores só para curtir as mudanças na paisagem.








Além da beleza das imagens que capturei nesta subida de colina, encontrei uma quantidade imensa de caramujos secos que usarei no meu trabalho.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Renascimento das cores



Hoje foi um dia de grande satisfação na minha vida de ceramista. Os esmaltes que tinha no Brasil se revoltaram com minha mudança transoceânica e simplesmente não funcionaram por estas bandas. Depois de uns 2 meses de testes com receitas consegui ressuscitar um azul explendoroso. Hoje completam 8 meses que estamos em Barcelona. Também hoje consegui dobrar a resistência do marrom. Já tinha abandonado as esperanças. Fiz dezenas de provas, os resultados da cor marrom  se assemelhava a de dejetos humanos. Era uma cor chave nas sobreoposições de esmaltes. Numa combinação que não haviamos provado antes, ele simplesmente reviveu em todo seu explendor. Aguadas terrosas do amarelo ao vermelho, geradas no forno a partir de uma só cor. Paisagens, figuras, expressões de harmonia e beleza. Minha função como ceramista é de combinar os minerais e criar as condições para que o fogo possa pintar as melhores telas. Extraindo o melhor que cada mineral pode dar. Sou só um médium, o artista é o fogo.
Ainda falta o verde. Continua desmaiado, devagar quase parando. Vou esperar de tocaia. Uma hora destas ele cai na minha rede



Os foscos também estão cooperando. Não preciso mais passar horas lixando as crostas rebeldes.





La fora, rompendo o recolhimento invernal, as ametlleras (amendoeiras) anunciam a primavera.
Os campos e as montanhas estão tintas de rosa